domingo, 11 de julho de 2010

Haiti: crise na nação mais miserável do Ocidente

Com uma população de aproximadamente 8 milhões de habitantes, o Haiti carrega hoje o triste título de nação mais miserável do mundo ocidental. De acordo com dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgados em 2004, o Haiti ocupa o 153º lugar no ranking que analisa o Índice de Desenvolvimento Humano de 175 países do planeta. Para se ter uma idéia, a epidemia de Aids que se alastra pelo país reduziu para 49 anos a expectativa de vida do povo haitiano.

O país também é considerado pela Transparência Internacional, entidade especializada no assunto, a segunda nação mais corrupta do mundo. Não bastassem todos esses problemas, o Haiti atravessa uma profunda crise institucional que culminou na queda do presidente Jean-Bertrand Aristide em fevereiro de 2004 e isso tem provocado uma série de conflitos armados em diversos pontos da nação. Tropas da ONU - os boinas azuis -, sob a liderança do Brasil, encontram-se no Haiti tentando devolver a paz aos haitianos, mas as dificuldades têm sido grandes e os constantes tiroteios aumentam a insegurança da região.

Esses conflitos são apenas mais um capítulo na tumultuada história desse país ao longo das últimas décadas. Entre 1957 e 1986, o Haiti esteve sob uma das mais sanguinárias ditaduras da América Latina, comandada inicialmente por François Duvalier, mais conhecido como Papa Doc, e posteriormente por seu filho, Jean Claude Duvalier, o Baby Doc.

O padre Jean-Bertrand Aristide, ligado à Teologia da Libertação, a ala de esquerda da Igreja católica, com seus sermões e discursos foi uma das principais vozes de oposição a esse regime. Nas eleições de 1990, o religioso conquistou a presidência do Haiti com 67% dos votos, prometendo combater a corrupção, o narcotráfico e a miséria. Com um ano de governo, no entanto, foi derrubado por um golpe militar. Só recuperou o poder em 1994, depois de uma intervenção militar dos Estados Unidos. De volta à presidência, uma de suas primeiras medidas foi extinguir as Forças Armadas.

Durante seu governo, a situação econômica do país piorou sensivelmente. O presidente alegava falta de apoio da comunidade internacional para promover as mudanças necessárias. Ao final de seu mandato, em 2000, Aristide concorreu à reeleição e saiu vitorioso. Entretanto, sua vitória foi amplamente contestada pela oposição, que apontou uma série de fraudes e boicotou o pleito.

Observadores internacionais confirmaram as irregularidades eleitorais e o prestígio de Aristide, em constante queda, despencou. Surgiram denúncias de que o presidente era apoiado por gangues armadas ligadas ao narcotráfico e que o governo desviava as verbas estrangeiras destinadas aos programas sociais. A oposição - dividida em várias facções - pressionava para Aristide renunciar e convocar novas eleições.

Em fevereiro de 2004, ex-militares do grupo "Novo Exército" lideraram um golpe contra o presidente: armados, tomaram o controle de vilarejos e pequenas cidades e partiram em direção à capital, Porto Príncipe. Os confrontos entre as forças policiais e os insurgentes provocaram centenas de mortes e levaram o caos ao país.

No dia 28 do mesmo mês, Jean-Bertrand Aristide renunciou ao cargo e refugiou-se inicialmente na República Central Africana. Dias depois, durante uma entrevista coletiva, o presidente afirmou ter sido derrubado pelo governo estadunidense, que o teria seqüestrado e embarcado à revelia em um avião.

O ex-presidente da Suprema Corte haitiana, Boniface Alexandre assumiu a presidência interinamente e indicou Gerard Latortue como primeiro-ministro. Eles empossaram um novo gabinete com 13 membros, dos quais nenhum representante pertence ao partido de Aristide, o Família Lavalas, provocando protesto dos quimeras, nome dado aos seguidores do ex-presidente.

No auge da crise, a ONU decidiu enviar tropas de paz ao país. A Organização comprometeu-se em mandar 6.700 militares para garantir a segurança da população enquanto não fossem realizadas novas eleições, mas até meados de novembro não havia cumprido a sua promessa na totalidade: apenas 4.500 soldados foram deslocados ao Haiti e eles vêm enfrentando dificuldades para controlar a região.

Os quimeras consideram as tropas de paz da ONU como um braço armado dos Estados Unidos e vêm promovendo uma série de ataques contra eles. Também acusam o governo interino de estar perseguindo e prendendo membros do Família Lavala. Em dezembro de 2004, durante visita do secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, ao Haiti, os quimeras e os boinas azuis da ONU travaram pesado tiroteio diante do palácio presidencial.

A situação do Haiti permanece em impasse. Aristide, exilado na África do Sul, considera-se ainda o atual presidente do país. A luta armada continua entre os quimeras, os paramilitares oriundos da extinta Forças Armadas, policiais defensores do governo e as forças de paz da ONU. Novas eleições presidenciais foram marcadas para fevereiro de 2005.

Se a paz demora para chegar ao país, o mesmo acontece com o US$ 1 bilhão de dólares de ajuda financeira que a comunidade internacional já alocou para o Haiti e a ONU recusa-se a liberá-lo alegando a inexistência de um projeto concreto de emprego da verba. No meio de toda essa crise, quem mais sofre é a população civil que continua vivendo na mais completa miséria e não tem, pelo menos no momento, perspectivas de mudanças significativas de sua realidade.

por Nayara Viana Dias

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